Mensurar e Verificar

Os dados do Escopo 3, por sua própria natureza, ficam fora dos domínios da empresa e são notoriamente difíceis de acessar. As empresas que desejam fornecer uma imagem mais abrangente das suas emissões do Escopo 3 têm procurado superar o desafio da falta de dados primários usando bases de dados secundárias. Embora seja útil ter uma compreensão inicial das suas emissões de Escopo 3, normalmente as informações fornecidas por esses bancos de dados não são necessariamente ajustadas anualmente e não refletem os esforços individuais feitos pelas empresas para reduzir as suas emissões. Para resolver este problema e acompanhar melhor o desempenho de seus pontos críticos de Escopo 3, as empresas devem ter acesso a dados específicos de fornecedores e clientes na forma de pegadas de carbono por produtos (PCFs, da sigla em inglês).

Para obter dados de alta qualidade à nível de produto, a PACT (Parceria para a Transparência do Carbono, desenvolvida pelo WBCSD) desenvolveu uma norma denominada Pathfinder Framework, baseada no Protocolo sobre Gases de Efeito de Estufa, para garantir consistência e comparabilidade contabilística.  

Em resumo, esta metodologia recomenda que as empresas calculem e troquem as Pegadas de Carbono por Produto (PCF) do “berço-ao-portão” (explicadas na etapa 2 abaixo), priorizando dados primários e de alta qualidade para tomar decisões informadas sobre suas emissões de Escopo 3, seguindo as 5 etapas ilustradas na Figura 1:

Figura 1: Como usar a contabilidade a nível de produto para permitir uma tomada de decisão eficaz sobre emissões de escopo 3

Fonte: Pathfinder Framework: Guidance for the Accounting and Exchange of Product Life Cycle Emissions

Para calcular e comerciar PCFs do “berço-ao-portão” e para melhor compreender e gerenciar as emissões, as empresas devem seguir estas 8 etapas:

1. Selecione os produtos e fornecedores prioritários

Já que calcular o PCF pode ser um desafio, o PACT recomenda que as empresas iniciem este processo concentrando-se em produtos estratégicos, priorizando produtos e fornecedores com a maior intensidade de emissões, onde a precisão dos dados é mais importante. A colaboração com estes fornecedores é fundamental para partilhar conhecimentos e garantir o cálculo e a troca consistentes de dados de emissões de produtos.

• Requisitos de stakeholders: priorizar produtos que atendam às necessidades de relatórios dos principais stakeholders e partes interessadas, como, por exemplo, clientes, agências reguladoras ou investidores;

• Capacidades do fornecedor: focar em produtos de fornecedores com maior experiência em contabilidade de carbono, como, por exemplo, fornecedores com análises de ACV existentes concluídas no passado;

• Relevância estratégica: foco em produtos que são estrategicamente mais importantes, como, por exemplo, do ponto de vista financeiro, de descarbonização ou de marca.

 2. Escolha parâmetros relevantes

Se um de seus clientes lhe pediu para calcular um PCF, a primeira etapa que você precisa realizar é selecionar parâmetros que sejam mais relevantes para o seu cálculo. Um parâmetro criterioso detalha os limites exatos, as etapas de cálculo, os requisitos de dados e as considerações de qualidade de dados para calcular seu PCF. Os parâmetros dão consistência e comparabilidade aos PCFs. As empresas devem escolher padrões com base em três princípios:

• Granularidade: o parâmetro deve estar no nível apropriado de granularidade dos dados para detalhar um PCF à nível do produto;

• Especificidade: a norma deve ser sob medida para um produto específico, o que que dará mais precisão ao calcular o PCF;

• Alinhamento: o padrão deve estar alinhado com o Pathfinder Framework, com as expectativas da indústria e com os requisitos regulatórios.

Conforme ilustrado na Figura 2 abaixo, existem diversos tipos de parâmetros. Para ajudar as empresas a navegarem estes padrões, o Pathfinder Framework introduziu uma hierarquia que detalha quais as normas que devem ser priorizadas e em que circunstâncias. Com base nos princípios mencionados, padrões específicos para produtos devem sempre ser priorizados para o cálculo de uma PCF do “berço-ao-portão”, uma vez que esta metodologia provê uma orientação mais moldada a um produto específico e, portanto, aumenta a precisão e consistência dos dados trocados entre cadeias de valor.

Figura 2: Priorização de parâmetros

Fonte: Pathfinder Framework: Guidance for the Accounting and Exchange of Product Life Cycle Emissions

3. Entenda e mapeie quais dados serão necessários

Uma vez selecionado os parâmetros, as empresas devem entender e mapear todos os processos e atividades que contribuam para as emissões na cadeia de valor e que estejam associadas ao produto estudado. Para calcular os PCFs dos produtos selecionados do “berço-ao-portão”, ou seja, durante toda o seu processo de produção, é necessário identificar:  

• Aquisição e pré-processamento de materiais: todos os processos relacionados à aquisição e mapeamento de insumos antes deles entrarem na cadeia produtiva;

• Produção: todas as atividades relacionadas à transformação dos insumos brutos no produto final;

• Distribuição e armazenamento: todos os processos relacionados ao transporte e armazenamento gerenciados diretamente pela empresa relatora;

Figura 3: Estágios do ciclo de vida e limites para pegadas de carbono do produto (PCFs)

Fonte: Pathfinder Framework: Guidance for the Accounting and Exchange of Product Life Cycle Emissions

4. Colete dados de atividades e emissões de todos os processos em seus PCFs

Depois de selecionar os parâmetros relevantes (etapa 2) e mapear todas os dados necessários (etapa 3), as empresas devem coletar dados de atividades e emissões para todas os processos associadas aos PCFs selecionados por meio de:

• Criar uma lista completa de processos e requisitos que precisam ser incluídos no cálculo do PCF. Para isso, as empresas precisam identificar: a) os dados vinculados a cada processo e dividi-los de acordo com a menor granularidade de informação possível; b) todos os requisitos necessários para a inclusão dos processos; c) as fontes de dados e seus requisitos de qualidade; d) as fontes de dados e seus responsáveis para cada ponto de dados;

• Elaborar um plano e metodologia para capturar eficazmente os dados necessários. Para isso, as empresas devem considerar que: a) os dados devem representar a média de um período (por exemplo, de 1 a 3 anos); b) diferentes pontos de dados provavelmente terão cronogramas diferentes; e c) distintos pontos de dados têm responsáveis diferentes e, portanto, é recomendado capacitar e promover autonomia para vários profissionais, compartilhando a responsabilidade e reduzindo a necessidade de idas-e-vindas de processos entre os responsáveis.

Sempre que possível, as empresas devem priorizar recolher os dados de emissões primárias dos seus fornecedores, algo que pode permitir soluções de descarbonização mais direcionadas e adequadas. Quando dados primários não estiverem disponíveis, as empresas devem, em um primeiro momento, preencher possíveis lacunas de dados com conjuntos de dados secundários e dados substitutos e depois estabelecer uma estratégia de como obter dados primários ao longo do tempo. Não é esperado que as empresas tenham PCFs calculados inteiramente com base em dados primários desde o primeiro momento: o importante é começar a recolher os dados mais relevantes e, gradualmente, aumentar a percentagem de dados primários utilizados.

5. Calcule seus PCFs 

Uma vez recolhidos todos os dados, o cálculo do PCF envolve três passos simples, conforme descrito na figura 4 e exemplificado na figura 5 abaixo.

Figura 4: Como calcular um PCF

Figura 5: Exemplo de como calcular um PCF

6. Avalie a qualidade e a confiabilidade dos dados de seus PCFs

Uma vez calculados os PCFs, as empresas devem analisar a qualidade geral e a confiabilidade dos dados dos PCFs para melhorá-los ao longo do tempo. Para avaliar a qualidade e confiabilidade dos dados, as empresas devem calcular:

• Porcentagem de dados primários, a proporção de dados primários usados para calcular o PCF;

• Classificações de qualidade dos dados, medida que reflete a qualidade dos dados utilizados para calcular o PCF (Figura 6 abaixo);

Estas duas métricas podem ser usadas para avaliar o quão confiável será um resultado de PCF, criando uma base para a tomada de decisões. A metodologia Pathfinder demanda que pelo menos uma das duas métricas seja relatada ao longo de um PCF até 2025, e, a partir deste ano, ambos os critérios devem ser reportados. Estas métricas devem evoluir ao longo do tempo para aliviar a carga de informação das empresas e facilitar a comparabilidade.

Figura 6: Versão simplificada da matriz de avaliação da qualidade dos dados do GHG Protocol

7. Verifique e garanta a integridade dos dados dos seus PCFs

Depois de avaliar a qualidade e a confiabilidade dos dados dos seus PCFs, as empresas devem obter garantias externas e validação dos resultados do PCF para garantir a integridade dos dados. Isto aumenta a confiabilidade nos dados do PCF, o que, por sua vez, permite uma melhor tomada de decisões para a descarbonização quando os PCF são trocados ao longo da cadeia de valor. Para obter mais informações, consulte o Capítulo 5 do Pathfinder Framework.

8. Troque dados dos seus PCFs em toda a cadeia de valor e desbloqueie oportunidades de descarbonização

A última etapa é trocar seus PCFs com seus clientes. Um problema frequente encontrado pela PACT entre fornecedores é o chamado “cansaço das pesquisas”, quando fornecedores são frequentemente solicitados a preencher questionários personalizados para fornecer dados, processos que demandam tempo. A PACT procurou superar esse problema ao criar uma rede de APIs, permitindo o compartilhamento de dados ao longo da cadeia de valor por meio de uma troca segura de pares de dados precisos, primários e verificados de emissões de produtos

Consulte a Rede Pathfinder e as Especificações Técnicas para Troca de Dados PCF para obter mais informações sobre como compartilhar PCFs e outros dados através da Rede Pathfinder.

Depois que os PCFs forem recebidos, as empresas poderão aproveitar esses PCFs de alta qualidade para:

• Melhorar a gestão e o monitoramento da qualidade dos dados, contabilidade corporativa de GEE, metas de sustentabilidade, desempenho dos fornecedores e risco climático;

• Informar decisões estratégicas sobre portfólios de produtos, inovação, P&D e design de produtos, estratégias de descarbonização, estratégias de cadeia de suprimentos e estratégias de marketing;

• Almeje o envolvimento com as principais partes interessadas, como fornecedores, clientes, compliance, indústria, investidores, reguladores e setores de advocacy.